01 janeiro, 1990

Velharias

Das coisas que escrevi em 1900 e guaraná com rolha somente consegui recuperar estas ,
hoje já não tenho muito apreço por elas , mas já que as escrevi aqui estão elas.


São teus,
Olhos que guardam a beleza
E possuem o dom de despertar
O desejo nos corações inocentes;
Dar-me-ia à tempestade que impera em teus reinos
pelo puro prazer de sentir o ar que sai dos teus lábios,
E ouvir tuas palavras como trovões dentro de mim ,
Fazendo tremer o meu corpo;
Doce criatura,
és mortal para aqueles de vontade fraca,
que se afogariam em devaneios sobre o teu ser,
Fazei de mim teu consorte, tomai
Minha carne e bebai minha alma
Pois nada mais justo que fazer
Uso do que já te pertence.
Assim dispo-me do véu de arrogância
E do manto da prudência para entregar-te minha honra,
que seja teu meu último desejo,
deixo-te minhas coisas e sentimentos para partir,
já sem alma, para a terra do eterno poente.
Chora criança,
Te sentes sozinha,
Abandonada que fostes aos
Desvairios da tua vida alucinada.
Tens medo de provar as dores do mundo,
Não te culpo, poupar-te-ia do sofrimento
Da tua vida pregressa se me fosse permitido,
Faria da tua existência doce paraíso de
Prazeres indescritíveis, de suavidade,
Do ardor secreto que jaz sob o
Teu semblante pueril.
Satisfaria todos os teus anseios de uma vida
Cheia de mistérios e segredos ocultos,
Somente para que os desvendasses com
Sede do saber.
Mas esta não é minha área.
Por enquanto Somente te devo observar,
Chorar contigo tua miséria, minha amada criança,
Pois a vida é podre, a vida são os vermes
Que devoram tua carne
E ela tem sede da tua inocência, tua candura,
Tua alma,
E esta criatura vil somente te deixará em
Paz após estares seca,
após teus olhos estarem frios e impassíveis,
após ter extraído todo o brilho de teu olhar.
Lute minha criança, não deixe esta vadia
Te sorver a alma, não percai nunca a esperança
Saiba que tuas penas mal começaram e serás
Punida por todos os crimes desta terra de ninguém.
Por amar, sofrerás o desprezo;
Pela esperança, receberás a derrota;
Por tua bondade, terás injustiça;
E somente após tua total desgraça
Terei permissão para te levar para onde pertences;
E ainda assim preferirás a mãe de todas as putas
Sim, ela sabe que o sofrimento vicia,
Ela ri das minhas tentativas de te acalentar
Em meus braços e beijar sua face;
É somente disso que necessito para
Te trazer a liberdade.
Que me abraces, aceite meu beijo
Segure em minha mão e deixe-me
Guiar-te por uma terra onde o sol jamais
Se põe.

Estão em ti todas as minhas fantasias,
Em cada poro da tua pele está cravada,
A centelha do meu desejo,
És obsessão, paranóia, delírio do
Meu prazer consumado na tua essência,
Me elevas às alturas,
Me fazes sentir Deus,
Um e somente um, contigo
Acima de tudo,
És heresia sagrada,
Guardas em teu seio
A chave de todos os meus mistérios,
A fonte da vida, a matéria dos espíritos
E a linguagem dos anjos
Possuis o dom de encantar com um sorriso
De me dobrar com um olhar,
Ah criatura divina dá-me a opção de
Querer ser teu,
Liberta-me para que Possa repousar em teus braços;
Nada sou tolhido da minha vontade,
Mas como quereria algo que
Não tua face diante de mim
Descobrindo em teus olhos toda minha felicidade.


Todo o crescimento traz dor,
Toda perda traz dor, inclusive a dela mesma;
E há que se crescer para ser feliz, não para se doer,
Mas esta é o inevitável preço que se paga
Pois quando se cresce perde-se a si mesmo.
Ah inevitável companheira das minhas alegrias,
Não hei de pautar a vida por ti!
Perdido que estou em mim mesmo me acho a cada momento,
Sou livre e mestre de mim mesmo e de meu destino,
Liberto que fui na alma de tua roda incessante
Vai! Carrega pra longe de mim tuas lágrimas
De agora em diante não sou mais tua morada!

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Ah morte ingrata !
De mim tiraste os bens, as mulheres,
os prazeres frívolos, as horas de embriagez!
Agora já não passo de defunto fresco!
Minha pele ainda rósea, meus lábios ainda vermelhos,
por que tinhas que me chamar agora?
Não vês que em mim pulsava o coração cheio de vontades,
prodígios vindouros me aguardavam e me negaste?
Maldigo tua essência pois é vã,
apagaste meu nome dos livros da história
e agora que nada posso fazer, não passo de motivo de chacota!
Aqueles que se diziam meus amigos, um bando de miseráveis!
Por mim não derramaram sequer um lágrima
e querem agora tomar o que é meu!
E tu, vadia ingrata! Era pouco dividir contigo meu leito?
Que mais querias? Que fosses a única a se deleitar com meu corpo?
Pobre inocente, não vês que o mundo é feito de falsidade,
de hipocrisia, de maldade?
O homem devora o homem, sabes muito bem disso;
se não querias acabar no meu prato, por que aceitastes meu jogo?
Sim, penso em tudo que fiz, não posso negar minha vida...
Boêmia, incerta, desregrada, sim, eu fui um bon vivant,
segui o exemplo dos mestres vagabundos, nunca trabalhei
e por que o faria?
Tinha, do meu pai, riquezas que devorei com máximo esmero,
um verdadeiro trabalho de mestre artesão, devo ressaltar!
A vida inteira fui fútil e vazio,
nunca passei de reles marginal envolto em trapos de seda...
Nunca em minha vida deixei de pensar em mim mesmo, e somente em mim!
Nunca, repito, nunca hesitei em passar por cima de quem estivesse em
meu caminho,
nunca fiz questão de ser bom ou respeitável,
de que adiantam estas coisas num mundo de feras,
de gente incivilizada, inculta, incapaz de amar?!
Não... Vejo que não falo mais do que mentiras, falo de outros pois não
posso aceitar o que sou, ou o que fui.
Rejeito a hipótese de não ter sido senão a mais bela das criaturas!
Mais belo e mais forte que o Davi de Michelangelo
e de que me adiantam estas coisas agora?
Minha carne será devorada pelos mesmos vermes que ontem se banquetearam
de um mendigo!
Eu que já fui belo, agora não passo de bolo de carne fétida!
Agora sinto somente o frio que abraça,
o vazio escuro que me cerca e devora minha alma.
Nenhum rosto amigo se volta em minha direção,
somente risadas de escárnio vêm a mim!
Sofro pela solidão, pelo abandono,
sofro pois já não posso contaminar niguém com minha existência
insípida,
com minhas atitudes banais e com minhas brincadeiras de mau gosto.
Ah! Morte de mim tudo tiraste
meus bens, minhas mulheres, minhas horas de embriagez,
minhas orgias, meus atos inpensados, minha bela vagabundagem.
Das coisas que me levaste seria a vida o que menos me importa?
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meu amor é frio, amargo,
melhor sentido ao longe.. com a saudade,
fruto da minha incapacidade de confiar
filho da própria frustação, este dom.. de não amar;
meu amor é fluido e corre sempre para o mar
salgado, seca a boca de quem dele bebe,
destrutivo e egocêntrico, arredio, livre
é um amor que odeia a quem ama,
pois quer somente amar a si mesmo...
Este amor doente, o não amor confuso, trôpego e reticente
somente isto posso te oferecer, não tente jamais mudá -lo!
assim destruiria teu inimigo... a razão da batalha;
e se curares a minha doença... a quem oferecerás o teu remédio?
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Despertas em mim a fúria e a agonia por não estar ao teu lado,
aqui distante sinto a decreptude tocando meus tecidos
e me levando aos poucos para onde jamais retornarei.
Não é benvinda esta hora... e maldigo os segundos que conto
[por não estares junto a mim;
agora as palavras correm agitadas para te alcançar,
voam desesperadas atrás do tempo perdido e de tudo o mais
[que é impossível ser recuperado ,
O coração quase pára em vã tentativa de poupar vida
[a ser despendida nos breves momentos em que
[tua presença se faz mais forte;
quando posso tocar teus lábios com os meus e fazer de teus braços
[doce morada;
então caio novamente em angústia pois em verdade só me acompanha
[o tempo...
e este só faz levar tua lembrança de mim.

Há em você a inevitabilidade de te amar,
afundar eternamente nos seus olhos,
enganado pelo desejo de explorar o seu corpo
me perder sua boca e dormir com seu gosto ,
[acordar com seu cheiro,
como uma criança selvagem, sem pudores ou maldades
viver para encontrar finalmente em você o repouso,
[morada eterna de puro gozo
Náufrago no mar dos seus humores,
delicio me na calmaria, atrevo me na tempestade;
mas qual navegante me guio pela sua sua estrela